Numa mera casualidade,
descobri que a ASICS vai desenvolver uma avaliação da nossa passada, denominada
FOOT ID, durante o mês de Outubro em várias cidades de Portugal. Infelizmente,
pelo que vi, as ilhas ficam de fora, daí não ter a possibilidade de realizar
esta avaliação. O FOOD IT consiste em obter uma análise completa e precisa do pé,
em situação estática e dinâmica com uma duração de 40 minutos.
Segundo o site da ASICS,
trata-se de um sistema “tridimensional que consegue integrar claramente dados
podológicos que outros sistemas não conseguem e contem mais de 5000 medidos em
toda a Europa. Um especialista da ASICS irá medir o seu pé através da ajuda de
um scanner composto por 4 lazeres e 8 câmaras. Tudo é analisado, desde o
comprimento e à altura do pé, passando pela largura do calcanhar. Todos os
dados recolhidos permitem analisar os pés e estabelecer um perfil preciso. O
sistema revela qualquer desvio em relação ao pé “comum”. Analisa as pegadas e calcula
o ângulo do tendão de Aquiles através de uma imagem bidimensional da parte de
trás do pé”.
O valor desta avaliação tem um custo de 20€ mas, pelo que me deu a
perceber, recebemos um vale com o mesmo valor, que podemos utilizar na compra
de umas novas sapatilhas ASICS.
Para os que lêem, com regularidade, o vive o desporto já conhecem a Insana Aventura: um super desafio nos Alpes,
em redor do Mont Blanc, onde 110 equipas de 3 elementos tinham de percorrer 308kms,
com uns impressionantes 30.000mts de desnível positivo, por entre trilhos quase inacessíveis, muitas ascensões
aos picos de quase 3.000mts, com as também difíceis descidas associadas, num
tempo máximo de 142horas.
Esse desafio teve o seu início no
dia 24 de Agosto, altura em que Chamonix é a capital mundial do trail running,
com milhares de participantes nas diversas distâncias do UTMB. Mas, só um grupo
restrito de cerca de 300 elementos participam na La Petite Trotte à Leon,
a super aventura de 308kms.
Apesar de não conhecer
pessoalmente estes 3 aventureiros ( Aires Barata, Diogo Tavares e Hugo Rocha),
rapidamente me apaixonei pela sua aventura, pois trata-se de algo que não está
ao alcance da maioria. Por isso, fui acompanhando todos os preparativos e incidências
até ao grande dia. No dia 24 de Agosto o meu facebook parecia uma autoestrada
para Chamonix pois, para além dos
Insanos, tinha um grupo de Madeirenses no UTMB , alguns meus conhecidos, que
seguia com atenção, e a quem aproveito para dar novamente os meus parabéns
pelas suas excelentes prestações.
Os posts iam saindo, com as incidências da aventura, até que a pior notícia foi difundida por um
atento seguidor: ATENÇÃO QUE ELES
ULTRAPASSARAM A BARREIRA DE TEMPO NUM POSTO DE CONTROLO”. Inicialmente
pensei ser algum engano, mas depois veio a confirmação. Rapidamente o Diogo
Tavares passou a informação que estavam todos bem e que iriam explicar o que
tinha acontecido.
É essa explicação que fica de seguida, que aconselho a que leiam num só
fôlego e que consigam entrar naquele maravilhoso, mas exigente mundo da
Insana Aventura. Obrigado aos três por nos proporcionarem tão grande
testemunho!
“24 Agosto, 5 da tarde - Chamonix
Ao rubro aquela saída de 300 atletas, 110 equipas de aventureiros
arrancam para a mais épica das provas de montanha da Europa. Le Petit Trote à
Leon.
O primeiro quilometro é arrepiante. Em chuva, a rua estava cheia de
gente a aplaudir, os badalos, o Promontory em pano de fundo. Incrível.
Esta prova não foi de trail running, foi uma aventura de alta-montanha,
de resistência física, mental e espírito de equipa.
Consistentes desde o início, sem pressas. Segundo o nosso plano se
mantivéssemos o ritmo entre os 2 e os 3km/h teríamos margem para dormir pelo
menos 3 horas por noite. Esse era o plano, depois veio a realidade.
O perfil do PTL este ano teve um plus considerável no nível de
dificuldade dos tracks e no número de colos. Um conceito híbrido entre o
montanhismo e o alpinismo.
As secções de altitude são sempre extremamente técnicas o que por vezes
levava-nos a ritmos a baixo dos 1km/h - Bem-vindos aos Alpes, meus caros!
Ascensões de 1500m e descendentes de 2000m sempre em curso até aos
3000m de altitude juntam-se à festa.
Refuge de Presset, 68km com foi a primeira vez que fechamos os olhos
durante pouco mais de 1h e seguimos viagem com energia reforçada pela massa
carbonara. Salve a boa onda da Carole Pirole.
Os Alpes tem uma escala que não é a nossa. É esmagador. Maravilhoso mundo
selvagem, inóspito, sem qualquer vestígio do homem. De muitas coisas que o PTL
nos deu foi estar ali. Só o Aires, o Rocha e o Diogo, sozinhos, com os Alpes
foi o maior dos privilégios.
A viagem prosseguiu até ao primeiro ponto de vida, Hospice Saint-Bernard
aos 102km: uma perna de coelho, 2 horas de sono e roupa nova. Haja alegria!!
A consistência na passada manteve-se firme. As subidas e descidas
técnicas começaram a aumentar proporcionalmente à cumplicidade que se criava
com as equipas com que nos cruzámos. O experiente Dima dos EUA, o Erik da
Bélgica, o bravo Sidney do Brasil, a canadiana Harriet os espanhóis boa onda, a
turma da Indonésia que afinal até temos amigos em comum, enfim, estávamos horas
nisto.
1:30am, dia 27 Agosto e, depois de uma longa jornada de lua semi cheia,
chegamos ao Refuge Deffeyes. Levávamos 133km nas pernas, muito cansaço
acumulado e uma grande preocupação: a barreira horária de 7 horas para fazer
17km, atravessar o Col Colmet (o mais técnico até agora), quase a picar os
3000m e descer a pique 1500m pela tenebrosa cascalheira glaciar até Morgex,
Itália.
Engolimos a melhor sopa das nossas vidas e avançamos a terceira noite
na companhia de 2 equipas francesas. O ritmo era alto e quanto mais subíamos
mais difícil era a progressão. Muita pedra solta, as marcações mal se viam,
seguia-mos o GPS às cegas e é aqui que sentimos os primeiros sinais. O passo
deixa de ser seguro, os tropeções aumentam e eu, no topo da lista. O cansaço
acumulado com a falta de sono apodera-se das pernas e deixam de responder às
ordens do cérebro. É aqui que entra a equipa. Nestas circunstâncias um pé em
falso pode significar a morte. Aqui não há metáforas. A entrada para este Col
segue através de um desfiladeiro de pedra grande e solta. Se alguém cai aqui,
desaparece no escuro. É demasiado arriscado continuar e a decisão foi unânime:
precisamos de 2 horas de repouso. A quase 2900m de altitude os padrões de
conforto não podem ser muito altos, logo as medidas foram tomadas rapidamente.
Shelter para fora, vestir toda a roupa quente que está na mochila e por em
prática a melhor técnica de conchinha tão gozada nos dias anteriores. Dentro do
shelter só me lembro do Aires e o Rocha comentarem qualquer coisa acerca do
céu. Espreitei por um segundo e em menos de nada adormeci profundamente. O céu
estava incrível.
3 varas verdes a tremer de frio. Tinham passado 2 horas e já tínhamos
luz do dia. Shelter encharcado por dentro e por fora e haviam mais calhaus por
baixo do nosso corpo do que pregos na cama de um faquir. Mas a noite tinha
passado e o corpo já respondia. Eu precisei de alguns segundos para o sangue
chegar ao cérebro. Recompostos, alcançamos o Col em menos de 10m.
O que se seguiu foram 14km a descer 2000m, agora com o passo seguro,
confiantes e agora, sem pressas. A decisão da noite passada iria ditar o fim da
nossa prestação. Já o sabíamos desde o momento que tirávamos o shelter da
mochila. Pelas nossas contas (e mais tarde confirmou-se), iria-mos chegar 3
horas depois da barreira de tempo ao controlo em Morgex.
Durante as 5 horas seguintes até Morgex dei por fazermos uma fila com
cerca de 15/20m de distância entre uns dos outros. Creio que estava cada um à
sua maneira a lidar com a retirada inevitável do PTL. Do monstro maravilhoso
que é o PTL.
Mas de uma coisa estou certo. Seja qual for a purga de cada um de nós
optou, a decisão que se tomou foi em equipa e a mais correcta.
O Mont Blanc irá continuar por aqui e um dia destes havemos de
regressar para dobrar a outra metade.
Por fim gostávamos do fundo do coração de agradecer a todos os amigos
que nos acompanharam nesta aventura, os triliões de likes, as palavras de
incentivo e, esperemos nós, de muito entusiasmo feminino. Não será todos os
dias que nos verão de licras justas wink emoticon
Graças a vocês a Insana Aventura deixou de ser três tipos a querer
fazer uma prova difícil com muitos quilômetros. A Insana Aventura passou a ser
um conceito mais amplo, uma forma de viver a vida no meio da natureza na
procura constante de novos desafios pondo à prova os nossos limites.
Redescobri recentemente um site
que cataloga as subidas/climbs por todo o mundo. Redescobri, porque já há uns
anos por lá tinha pesquisado umas subidas, mas entretanto nunca mais lá tinha
ido e agora está muito mais completo. http://www.climbbybike.com/
Como se percebe, as subidas mais difíceis
do mundo são desconhecidas da maioria de nós, pois não fazem parte dos
circuitos mundiais de ciclismo. Mas é interessante olhar para aqueles gráficos
e aquelas distâncias.
Deixo uma lista das subidas mais
difíceis de Portugal e Brasil, assim como algumas das mais conhecidas das
grandes voltas.
Subidas mais duras/difíceis de
Portugal
Como vivo na Madeira, acabo por
ser um sortudo. Por aqui encontram-se as subidas mais difíceis de Portugal e
até da Europa, sendo que já fiz algumas delas.
Subir de bicicleta até ao Pico do Arieiro, pelo Caminho do
Comboio, permite-nos fazer a 55.ª subida mais dura do mundo. São 17,5 Kms a
10,5%, sendo que entre os quilómetros 1 e 4 a média é de quase 18%! Apesar de
difícil, não é comparável à subida mais dura do mundo, situada no Hawai. A Mauna Kea são 68,6kms a 6,1%. Partimos do
mar e vamos até aos 4100metros!
De entre as subidas mais duras de
Portugal, que fazem parte das normais competições ciclísticas, as mais duras
encontram-se na Serra da Estrela,
como seria de esperar. A normal Seia-Torre
encontra-se no lugar 532. São 30kms a 5,2%. Fora da Serra da Estrela, a subida
de S.Macário, perto de Viseu, é das
subidas mais difíceis. São 9 Kms a 9,1%. Ainda neste mês foi palco do final de
uma etapa da Volta ao Futuro.
Pico do Arieiro; Seia-Torre; S.
Macário foram subidas que já fiz. Na próxima 5.º feira vou fazer Covilhã-Torre, uma das poucas subidas da
Estrela que ainda não fiz, aproveitando para ver a etapa da Volta a Portugal
que fará a mesma subida nesse dia.
A lista das subidas mais difíceis
de Portugal encontra-se em:
De entre as subidas onde
normalmente acompanhamos os ciclistas nas grandes voltas, é em Itália que se
encontram as maiores dificuldades. Passo dello Stlevio e Mortirollo
são impiedosas. Para além das normais dificuldades, são normalmente
acompanhadas por chuva/vento/neve!
Fiz uma pequena lista com o nome
e o ranking das mais duras:
- Passo dello Stelvio (Itália):
122
- Mortirollo (Italia): 173
- Zoncolan (Itália):158
Mont Ventoux (frança):
203
Galibier ( França): 221
Angliru (Espanha): 258
Alpe D´Huez (França): 725
Subidas mais duras/difíceis do Brasil
No Brasil a subida mais dura
encontra-se no Itatiaia Nacional Parque.
São 40kms a 5,2%. Ocupa o lugar 185 do mundo!
Em S. Paulo encontra-se a subida
da Serra do Paiol, com 6,64Kms a 11,8%.
Aventurei-me este ano no Skyroad,
conceito de provas onde nunca tinha participado, não por falta de vontade, mas
porque estando a trabalhar na Madeira não é possível ir a todos os eventos que
queremos. E comecei logo pela prova mais dura de todo o Skyroad, o Grandfondo
da Serra da Estrela. Pedalar no topo de Portugal é sempre um desafio. Não era a
maior distância, nem tão pouco o maior acumulado que já tinha feito, mas 132 km cronometrados com 4200 D+ são sempre de impor respeito, ainda para mais numa
fase de maior incidência e treino no
atletismo e no trail.
Às 8:30 h da
manhã, a vila de Manteigas estava a fervilhar. Cerca de 1200 ciclistas prontos
para subir a Estrela, com equipamentos e bicicletas x.p.t.o., de tal forma que nem
parecia que estávamos em Portugal, um país numa crise profunda. Ainda bem que a
Troika já foi embora, pois de outra forma haveria maneira de taxar um pouco mais
o país!
Como sabia que não estava num
grande momento de forma ciclística, defini dois objetivos: o primeiro seria concluir; o segundo seria tentar o diploma finisher de ouro, sendo que para
isso teria de fazer a prova abaixo das 6h10m. Não era uma tarefa impossível, mas iria depender do desenrolar da prova,
principalmente a sua parte final.
Saímos em direção às Penhas
Douradas, subida fácil com baixos pendentes, apesar dos seus 19 km.Descemos em direção a Seia onde
se encontrava o 1.º abastecimento. Seguimos depois em direção a Vide, onde nos
esperava uma descida extremamente rápida e técnica e onde infelizmente
acabaram por acontecer acidentes, isto apesar de uma fantástica sinalização da
organização, quer com avisos, quer com elementos com apitos e bandeiras nas
curvas mais perigosas. À medida que o dia ia avançando, o calor começou a fazer-se
sentir, tal como alguma fadiga. Ao Km 100, com cerca de 2000D+, levava média de
25Km/h, dentro das minhas previsões. No entanto, sabia que os 32 km seguintes
eram demolidores. Teriam uma ascensão de mais de 2000D+, com níveis de oxigénio
mais baixos, pois subiria aos 1991 metros, já com fadiga acumulada e passando
pelo terrível Adamastor, uma das subidas mais duras de Portugal.
Ao Km 113, chegava a maior
dificuldade do dia: o Adamastor! Nunca tinha feito esta subida, mas alguns amigos
já me tinham falado maravilhas. Bastaram algumas centenas de metros para ver
como ela é fantástica! Pendentes até aos 16% em algumas curvas, e umas
intermináveis retas com pendentes de 13/14% completamente expostas ao sol e ao
vento. Uma delícia para quem, como eu, gosta de subir. Mas as pernas já não
queriam nada com o Adamastor. Cada pedalada era um sacrifício! Felizmente que
havia um abastecimento a meio. Que maravilha aquela melancia fresquinha! Devo
ter comido uma inteira! Tive mesmo de por lá parar e tentar repor energias.
Mesmo após o abastecimento, o suplício continuou. Quando cheguei ao cruzamento
da estrada que liga Seia à Torre, disse adeus ao Adamastor com a certeza de que
nos havemos de encontrar, mas dessa vez noutras condições para desfrutar a
sério esta magnífica subida.
Do final do Adamastor à Torre foi
gerir, tendo demorado mais do dobro do tempo do meu melhor registo desse
segmento, que já fiz várias vezes subindo por Seia. Mas lá cheguei, feliz, com
aquela sensação de prazer e fadiga, que só quem gosta destas maiores distâncias
conhece. O grande objetivo estava alcançado! O 2.º objetivo ficou a 30 minutos. Foram 6h:40m de tempo de prova, Os últimos 30kms acabaram por deixar a sua marca!
A ORGANIZAÇÃO
Já me tinham falado da
organização do Skyroad, mas sentir na pele é uma satisfação. Profissionais de
qualidade! Desde o primeiro ao último minutos não detetei uma falha. Carros e
motos de apoio para cima e para baixo, principalmente nos últimos kms;
abastecimentos em número mais que suficiente e bem recheados; sinalização ao
longo da estrada feita por dezenas de pessoas, nos cruzamentos e nas curvas
mais perigosas; e simpatia, sempre muita simpatia com todos os que contactei. Para
além disso, os pormenores: no final da subida do Adamastor dois figurantes
devidamente trajados representando o Adamastor e talvez uma Ninfa do Tejo? Penso que terá sido a organização a ter esta brilhante ideia. Estávamos a
dobrar o Adamastor! As tormentas tinham acabado!
AS MEIAS DE
COMPRESSÃO
Durante a prova utilizei as
minhas meias de compressão. Apesar de alguns amigos me incentivarem a não
utilizar, porque no ciclismo ninguém utiliza, decidi utilizar porque me sinto
bem com elas e porque nenhum estudo as contra-indica. A verdade é que,
durante a prova, foram poucos os que vi utilizar meias. No entanto, no final da
prova, vi muitos participantes com meias de compressão, para assim acelerar a
recuperação muscular. Claramente uma boa escolha. Agora a pergunta que faço
é a seguinte: numa prova longa, como o Skyroad, não necessitamos de recuperação
ainda durante a prova? Por isso, neste tipo de distâncias continuarei a
utilizar meias de compressão, tal como utilizo no trail e no atletismo de
fundo. Obrigado à Runsox, loja especializada em meias de compressão, www.runsox.eu, pelos excelentes conselhos e
pelo apoio que me têm dado!