Aventurei-me este ano no Skyroad,
conceito de provas onde nunca tinha participado, não por falta de vontade, mas
porque estando a trabalhar na Madeira não é possível ir a todos os eventos que
queremos. E comecei logo pela prova mais dura de todo o Skyroad, o Grandfondo
da Serra da Estrela. Pedalar no topo de Portugal é sempre um desafio. Não era a
maior distância, nem tão pouco o maior acumulado que já tinha feito, mas 132 km cronometrados com 4200 D+ são sempre de impor respeito, ainda para mais numa
fase de maior incidência e treino no
atletismo e no trail.
Às 8:30 h da
manhã, a vila de Manteigas estava a fervilhar. Cerca de 1200 ciclistas prontos
para subir a Estrela, com equipamentos e bicicletas x.p.t.o., de tal forma que nem
parecia que estávamos em Portugal, um país numa crise profunda. Ainda bem que a
Troika já foi embora, pois de outra forma haveria maneira de taxar um pouco mais
o país!
Como sabia que não estava num
grande momento de forma ciclística, defini dois objetivos: o primeiro seria concluir; o segundo seria tentar o diploma finisher de ouro, sendo que para
isso teria de fazer a prova abaixo das 6h10m. Não era uma tarefa impossível, mas iria depender do desenrolar da prova,
principalmente a sua parte final.
Saímos em direção às Penhas
Douradas, subida fácil com baixos pendentes, apesar dos seus 19 km. Descemos em direção a Seia onde
se encontrava o 1.º abastecimento. Seguimos depois em direção a Vide, onde nos
esperava uma descida extremamente rápida e técnica e onde infelizmente
acabaram por acontecer acidentes, isto apesar de uma fantástica sinalização da
organização, quer com avisos, quer com elementos com apitos e bandeiras nas
curvas mais perigosas. À medida que o dia ia avançando, o calor começou a fazer-se
sentir, tal como alguma fadiga. Ao Km 100, com cerca de 2000D+, levava média de
25Km/h, dentro das minhas previsões. No entanto, sabia que os 32 km seguintes
eram demolidores. Teriam uma ascensão de mais de 2000D+, com níveis de oxigénio
mais baixos, pois subiria aos 1991 metros, já com fadiga acumulada e passando
pelo terrível Adamastor, uma das subidas mais duras de Portugal.
Ao Km 113, chegava a maior
dificuldade do dia: o Adamastor! Nunca tinha feito esta subida, mas alguns amigos
já me tinham falado maravilhas. Bastaram algumas centenas de metros para ver
como ela é fantástica! Pendentes até aos 16% em algumas curvas, e umas
intermináveis retas com pendentes de 13/14% completamente expostas ao sol e ao
vento. Uma delícia para quem, como eu, gosta de subir. Mas as pernas já não
queriam nada com o Adamastor. Cada pedalada era um sacrifício! Felizmente que
havia um abastecimento a meio. Que maravilha aquela melancia fresquinha! Devo
ter comido uma inteira! Tive mesmo de por lá parar e tentar repor energias.
Mesmo após o abastecimento, o suplício continuou. Quando cheguei ao cruzamento
da estrada que liga Seia à Torre, disse adeus ao Adamastor com a certeza de que
nos havemos de encontrar, mas dessa vez noutras condições para desfrutar a
sério esta magnífica subida.
Do final do Adamastor à Torre foi
gerir, tendo demorado mais do dobro do tempo do meu melhor registo desse
segmento, que já fiz várias vezes subindo por Seia. Mas lá cheguei, feliz, com
aquela sensação de prazer e fadiga, que só quem gosta destas maiores distâncias
conhece. O grande objetivo estava alcançado! O 2.º objetivo ficou a 30 minutos. Foram 6h:40m de tempo de prova, Os últimos 30kms acabaram por deixar a sua marca!
A ORGANIZAÇÃO
Já me tinham falado da
organização do Skyroad, mas sentir na pele é uma satisfação. Profissionais de
qualidade! Desde o primeiro ao último minutos não detetei uma falha. Carros e
motos de apoio para cima e para baixo, principalmente nos últimos kms;
abastecimentos em número mais que suficiente e bem recheados; sinalização ao
longo da estrada feita por dezenas de pessoas, nos cruzamentos e nas curvas
mais perigosas; e simpatia, sempre muita simpatia com todos os que contactei. Para
além disso, os pormenores: no final da subida do Adamastor dois figurantes
devidamente trajados representando o Adamastor e talvez uma Ninfa do Tejo? Penso que terá sido a organização a ter esta brilhante ideia. Estávamos a
dobrar o Adamastor! As tormentas tinham acabado!
AS MEIAS DE
COMPRESSÃO
Durante a prova utilizei as
minhas meias de compressão. Apesar de alguns amigos me incentivarem a não
utilizar, porque no ciclismo ninguém utiliza, decidi utilizar porque me sinto
bem com elas e porque nenhum estudo as contra-indica. A verdade é que,
durante a prova, foram poucos os que vi utilizar meias. No entanto, no final da
prova, vi muitos participantes com meias de compressão, para assim acelerar a
recuperação muscular. Claramente uma boa escolha. Agora a pergunta que faço
é a seguinte: numa prova longa, como o Skyroad, não necessitamos de recuperação
ainda durante a prova? Por isso, neste tipo de distâncias continuarei a
utilizar meias de compressão, tal como utilizo no trail e no atletismo de
fundo. Obrigado à Runsox, loja especializada em meias de compressão, www.runsox.eu, pelos excelentes conselhos e
pelo apoio que me têm dado!
Sem comentários:
Enviar um comentário