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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A competição desportiva intensiva em crianças: especialização precoce. Quais as consequências dessa prática?

A prática desportiva realizada desde cedo é um fator importantíssimo para o desenvolvimento harmonioso da criança. No entanto, quando a criança, devido às suas excecionais capacidades desportistas, é exposta à competição intensiva, pode provocar graves danos físicos, psicológicos e sociais.

Sei que este artigo vai ser controverso, pois vários colegas de profissão, alguns deles treinadores, têm uma visão diferente da minha. Esta é a minha opinião sobre esta temática da especialização precoce, fruto daquilo que observo com regularidade, do que dizem a maioria dos estudos, e porque já o senti no corpo, com cargas exageradas, que poderão estar na origem de alguns problemas articulares atuais.
Aspetos negativos da especialização precoce:
- Alta intensidade de treinos antes da puberdade pode provocar problemas ósseos, cardíacos e musculares; (treinos /competição  5/6 dias por semana;  competição em escalões superiores, etc.);
- A nível psicológico, as crianças são expostas a grandes cargas emocionais, com stress, ansiedade e pressão para vencer (isto acontece especialmente nas modalidades individuais, onde a responsabilidade pessoal é superior);
A nível social, a criança abdica muito da sua infância: festas de anos a que não pode ir, brincadeiras que não pode praticar e, muitas vezes, graves prejuízos escolares, já que lhe falta tempo, pois anda cansada e muitas vezes é obrigada a faltar às aulas quando há deslocações mais distantes. (A maioria das vezes são proibidas pelos treinadores de participar nos jogos das suas turmas, desporto escolar, e até nas aulas de Educação Física nas vésperas de competições importantes).
Não podemos esquecer o seguinte: a criança não pode ser um meio para atingir um fim. Nem para treinadores e clubes que querem resultados, nem para pais que aproveitam o bom desempenho desportivo dos seus filhos como afirmação social! (Acredito que o façam sem saber as possíveis consequências futuras). Quanto aos clubes, já não acredito nessa “ignorância”.
Não discordo da competição! Espero que os meus filhos tenham capacidades para competir num nível elevado. Mas, estarei atento àquelas que são as etapas normais do seu crescimento. Os resultados não poderão ser a sua prioridade. Se eles  estiverem demasiados motivados, serei o primeiro a colocar água na fervura. Até aos 14/15 anos o desporto será apenas uma brincadeira. A partir daí, se tiverem capacidades, a minha atitude poderá ser diferente…
Muitos de vocês devem estar a pensar: "mas as crianças adoram"; "são elas que pedem para ir". Pois, mas elas ainda não têm maturidade, nem conhecimentos, para fazer as escolhas corretas…
Aconselho também a que, numa fase inicial, pratiquem vários desportos, de preferência alternância entre desportos coletivos e individuais.

Para se poder melhor perceber aquilo de que estou a falar, vou apenas deixar um dos exemplos que vão acontecendo e com que contacto pessoalmente:
O ano passado fui professor de um génio desportivo numa determinada modalidade: 11 anos, n.º 1 do ranking europeu do seu escalão e, em Portugal, sem adversários à altura. Então competia num escalão superior e fez imensos torneios internacionais ao longo do ano letivo. Como se compreende, faltou imenso às aulas, normalmente às 2.ª e 6.ª feiras. Apesar de ser uma criança inteligente, os seus resultados escolares começaram a baixar. E, claro que, com este ritmo, continuarão a baixar cada vez mais. A questão é a seguinte. Apesar do seu potencial, pode chegar à idade adulta e não atingir os resultados para que está a ser trabalhado e com os quais já vive. Acreditem que nesta criança, a pressão já é imensa! Imaginam o que ela está a deixar para trás? Não seria mais sensato diminuir um pouco a pressão e a competição, durante mais 2 ou 3 anos? Ela teria tempo de se especializar e atingir o máximo do seu potencial…
Uma outra situação é chegar demasiado cedo ao top! Penso que a maioria de vós conhece o que aconteceu à nossa triatleta Vanessa Fernandes. Atingiu o top e rapidamente desapareceu, com graves problemas sociais. Investiguem um pouco porquê…!
Ficou este alerta para os vossos filhos, sobrinhos, netos… e atenção que a especialização precoce também acontece na dança, música, ...

Carlos Oliveira


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A importância da prática da atividade desportiva desde criança (e não vou falar só da importância a curto prazo)


A prática da atividade desportiva desde criança revela-se cada vez mais um fator fundamental na prevenção de doenças na fase adulta do indivíduo. Dezenas, ou centenas de estudos, já provaram esta relação. No entanto, observo nos últimos anos um decréscimo das crianças que praticam atividade física de uma forma regular. Talvez a crise tenha contribuído um pouco para isso, com o fecho de alguns clubes, menos capacidade económica dos pais. Mas isso não pode ser desculpa, continua a haver muita oferta gratuita, a começar pela oferta familiar!
Mas, em que medida essa relação (atividade física na idade precoce/melhoria da qualidade de vida) é tão notória? Não vou sequer falar nos efeitos imediatos, como o desenvolvimento musculo-esquelético, dos sistemas respiratório e circulatório da criança. Não vou desenvolver a questão da melhoria dos resultados escolares (cada vez mais estudos o comprovam). Esses são os resultados mais óbvios, mais imediatos. Vou falar de MOTIVAÇÃO, GOSTO pela prática desportiva e dos seus efeitos futuros, na idade adulta.

Tal como em tantas coisas na vida, o gosto pela prática da atividade física adquire-se praticando. A maioria das crianças nasce com o gosto natural por correr, saltar, jogar. Muitas vezes são os pais, as famílias, que lhes retiram esse gosto. Como? Não as levando a fazer o que gostam naturalmente. E com o tempo elas vão perdendo esse gosto pela prática da atividade física. Ficam-se pelas atividades desportivas da escola, o que é manifestamente insuficiente.
Constato, tal como muitos colegas de várias escolas, uma maior desmotivação dos jovens para as atividades desportivas. As ofertas extracurriculares na área desportiva, tal como o desporto escolar, são cada vez menos solicitadas pelos alunos. E, os que procuram essas atividades, normalmente já praticam uma atividade desportiva fora da escola (vem de encontro ao que disse anteriormente, “quanto mais pratico mais gosto” e vice-versa). 


Em que medida isso vai ser importante na atividade adulta? Passo a explicar.

Se a criança é DESMOTIVADA para a prática da atividade desportiva, em adulto vai ser… claro desmotivado (salvo raras exceções). É em adulto que normalmente as doenças associadas à inatividade física aparecem. Depois, lá vão ao médico, é receitado um medicamento, uma dieta e o complemento com a atividade física. Mas, como a motivação é pouca, rapidamente surgem as desculpas que “não há tempo”, etc. E a atividade física volta a ser interrompida. É assim que funciona!

O que pretendo com este artigo?

Pais e outros familiares observem as vossas crianças. Saiam com elas para o parque, brinquem com elas. Levem a bola, a bicicleta, ou simplesmente caminhem e façam pequenas corridas. Uma criança, numa brincadeira de 20 minutos com pai, poderá ter mais gastos energéticos do que numa aula de Educação Física (não esquecer que as turmas têm entre 25 a 30 alunos e muitas vezes espaços reduzidos. O tempo de atividade motora não é grande)! Elas têm de sentir o prazer de ficar ofegantes, transpiradas. Na escola, procurem as atividades extracurriculares ligadas ao desporto e inscrevam os vossos filhos. As crianças estão cansadas intelectualmente. A carga teórica e o grau de exigência são cada vez maiores (para mim em demasia). Disciplinas como a Matemática e o Português provocam grande desgaste intelectual e emocional sobre alunos, pais e professores. Os programas estão cada vez mais difíceis.  Se nós somos adultos conseguimos lidar com a pressão, as crianças precisam de uma escapatória. Alguns pais podem pensar: “mas se o meu filho tem dificuldades em Matemática, vai perder tempo a ir jogar? Vai é para casa estudar”! Errado. Eles não estão já cansados de um dia de aulas? Uma hora para libertar fadiga intelectual,  não permitirá depois maior concentração? Imensos estudos científicos dizem que sim…
A criança que pratica atividade física, vai ser um adulto que pratica atividade física!

Carlos Oliveira