A
prática desportiva realizada desde cedo é um fator importantíssimo para o
desenvolvimento harmonioso da criança. No entanto, quando a criança, devido às suas
excecionais capacidades desportistas, é exposta à competição intensiva, pode
provocar graves danos físicos, psicológicos e sociais.
Sei
que este artigo vai ser controverso, pois vários colegas de profissão, alguns
deles treinadores, têm uma visão diferente da minha. Esta é a minha opinião
sobre esta temática da especialização precoce, fruto daquilo que observo com
regularidade, do que dizem a maioria dos estudos, e porque já o senti no corpo,
com cargas exageradas, que poderão estar na origem de alguns problemas
articulares atuais.
Aspetos negativos da especialização
precoce:
- Alta
intensidade de treinos antes da puberdade pode provocar problemas ósseos,
cardíacos e musculares; (treinos /competição 5/6 dias por semana; competição em escalões superiores, etc.);
- A
nível psicológico, as crianças são expostas a grandes cargas emocionais, com
stress, ansiedade e pressão para vencer (isto acontece especialmente nas
modalidades individuais, onde a responsabilidade pessoal é superior);
- A nível social, a criança abdica muito da
sua infância: festas de anos a que não pode ir, brincadeiras que não pode praticar
e, muitas vezes, graves prejuízos
escolares, já que lhe falta tempo, pois anda cansada e muitas vezes é obrigada a
faltar às aulas quando há deslocações mais distantes. (A maioria das vezes são
proibidas pelos treinadores de participar nos jogos das suas turmas, desporto
escolar, e até nas aulas de Educação Física nas vésperas de competições importantes).
Não podemos esquecer o seguinte: a criança
não pode ser um meio para atingir um fim. Nem para treinadores e clubes que
querem resultados, nem para pais que aproveitam o bom desempenho desportivo dos
seus filhos como afirmação social! (Acredito que o façam sem saber as possíveis
consequências futuras). Quanto aos clubes, já não acredito nessa “ignorância”.
Não
discordo da competição! Espero que os meus filhos tenham capacidades para
competir num nível elevado. Mas, estarei atento àquelas que são as etapas
normais do seu crescimento. Os resultados não poderão ser a sua prioridade. Se
eles estiverem demasiados motivados,
serei o primeiro a colocar água na fervura. Até aos 14/15 anos o desporto será
apenas uma brincadeira. A partir daí, se tiverem capacidades, a minha atitude
poderá ser diferente…
Muitos
de vocês devem estar a pensar: "mas as crianças adoram"; "são elas que
pedem para ir". Pois, mas elas ainda não têm maturidade, nem conhecimentos, para
fazer as escolhas corretas…
Aconselho
também a que, numa fase inicial, pratiquem vários desportos, de preferência alternância
entre desportos coletivos e individuais.
Para
se poder melhor perceber aquilo de que estou a falar, vou apenas deixar um dos
exemplos que vão acontecendo e com que contacto pessoalmente:
O ano
passado fui professor de um génio desportivo numa determinada modalidade: 11 anos, n.º 1 do ranking europeu do seu escalão e, em Portugal, sem adversários
à altura. Então competia num escalão superior e fez imensos torneios
internacionais ao longo do ano letivo. Como se compreende, faltou imenso às
aulas, normalmente às 2.ª e 6.ª feiras. Apesar de ser uma criança inteligente, os
seus resultados escolares começaram a baixar. E, claro que, com este ritmo,
continuarão a baixar cada vez mais. A questão é a seguinte. Apesar do seu
potencial, pode chegar à idade adulta e não atingir os resultados para que está
a ser trabalhado e com os quais já vive. Acreditem que nesta criança, a
pressão já é imensa! Imaginam o que ela está a deixar para trás? Não seria mais
sensato diminuir um pouco a pressão e a competição, durante mais 2 ou 3 anos?
Ela teria tempo de se especializar e atingir o máximo do seu potencial…
Uma
outra situação é chegar demasiado cedo ao top! Penso que a maioria de vós
conhece o que aconteceu à nossa triatleta Vanessa Fernandes. Atingiu o top e
rapidamente desapareceu, com graves problemas sociais. Investiguem um pouco porquê…!
Ficou
este alerta para os vossos filhos, sobrinhos, netos… e atenção que a especialização
precoce também acontece na dança, música, ...
Carlos
Oliveira
Excelente.O meu Tcc,falei sobre a Importancia do brincar na Infãncia...dançar,pular ,rolar ,constrir brinquedos e descobrir com as crianças várias possibilidades de movimentos corporais...
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