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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A importância do treino funcional no trail running: por Hermano Gouveia - Personal Trainer

O trail running foi a modalidade desportiva que mais cresceu nos últimos anos, havendo todos os fins de semana várias provas, onde participam milhares de atletas, mais ou menos preparados para as realizar. Apesar das imensas informações e recomendações, a verdade é que ainda há praticantes de trail running, que descuram o treino funcional, preparando as suas provas apenas com treino de corrida. A propósito desta situação, o Vive o Desporto, convidou Hermano Gouveia, personal trainer, licenciado em Educação Física, treinador de atletismo, responsável pela preparação de vários trailrunners, sendo que recentemente cinco dos seus atletas foram selecionados para participar no UTMB 2016, a falar um pouco sobre a importância do treino funcional em corrida de montanha.
Fica um excerto do seu artigo…

“Entre os atletas do Trail Running e das Sky Marathon julgo que existe consenso quando se conclui que correr só por correr não é suficiente para uma boa performance nas montanhas. É necessário um treino específico que evite a ocorrência de lesões musculares, melhore a postura, a flexibilidade, a estabilidade, aumente da resistência  e aumente os níveis de força.
Limitar o treino apenas à corrida, acumulando quilómetros, irá refletir-se nas pernas, condicionando o desenvolvimento do corpo do atleta como um todo, dado que está constantemente a realizar os mesmos movimentos e a desenvolver o mesmo tipo de grupos musculares. Por isso considero que o planeamento do treino para um atleta de Trail Running não é igual ao treino de um atleta que pratica provas longas de atletismo como as meias maratonas e as maratonas….

Quando elaboro um planeamento para o atleta de Trail Running tenho de ter em conta as diferenças claras entre as diferentes provas e as variáveis a analisar antes de planear.
O trail running é um tipo de corrida muito diferente das corridas normais de estrada e de corta-mato. Os percursos onde são realizadas as provas de trail running incluem trilhos muito técnicos, que na sua maioria só são acessíveis a pé, como zonas montanhosas com grandes declives, subidas de pequenos riachos, com fundos rochosos e com pouca água, subida de pedras, entre outros tipos de piso com terrenos acidentados. São cenários como este e muito mais que podemos encontrar neste tipo de provas. Por vezes, os percursos são tão técnicos e extremamente duros que os atletas não conseguem correr, tendo mesmo que caminhar, saltar riachos ou andar sobre pedras…


Independentemente das motivações que levam à prática do Trail Running, o nível enquanto atletas ou até os diferentes objetivos que cada um pretende alcançar, julgo ser consensual que todos, sem exceção, gostavam de se superar e de melhorar a sua performance. O treino desempenha sem dúvida um papel fundamental para atingir este objetivo e deve ser adequado a cada atleta em particular, às suas características pessoais, disponibilidade, calendário de provas, objetivos a alcançar entre outros fatores. A correta definição dos tipos de treino a efetuar, as intensidades com que devem ser realizados, os tempos de repouso e recuperação, são alguns dos aspetos que têm que estar sempre presentes num bom planeamento do treino. A principal linha orientadora deverá ser: privilegiar a qualidade e não a quantidade e adaptar o treino à vida diária de cada um considerando que a maioria dos atletas tem a sua vida pessoal e profissional, significando um peso enorme no seu dia-a-dia.


O Treino Funcional 
O que é? 
… Deste modo, posso concluir que o treino funcional permite o desenvolvimento de movimentos integrados de cada desportista, segundo as especificadas de cada modalidade. Sendo assim, esta metodologia de treino possibilita a todos os desportistas o apurar das suas capacidades físicas, tornando-se possível, assim, atingir uma maior performance e um maior desempenho.
Por todas estas razões, o treino funcional tornou-se, assim, uma grande ferramenta por excelência a utilizar no planeamento do treino dos atletas de trail running.

Equipamentos essenciais no planeamento do treino funcional dos meus atletas:
§  Bosu
§  BalancePad
§  Elásticos
§  TRX
§  Roller FitBall
§  FitBall
§  Entre outros

Treino de Instabilidade e Aptidão Sensoriomotora

As exigências das atividades físico-desportivas obrigam cada vez mais os desportistas a terem níveis elevados de condição física e ausentes de situação de lesão. Por esta razão, é fundamental atuar na prevenção de lesões e melhoria da aptidão física destes indivíduos. É também um dos principais motivos que me leva a adotar este método ligado ao treino funcional. 
Nos dias que correm, a prevalência e incidência de lesões osteoarticulares é cada vez mais elevada. Para diminuir a prevalência e a incidência de lesões osteoarticulares é fundamental desenvolver, entre vários aspetos da condição física, os tempos de latência da resposta muscular inconsciente, para melhor responder a situações potencialmente lesivas. Quando um indivíduo não tem esta capacidade treinada pode ganhar uma deficiência na ação mecânica dos ligamentos e também ver diminuída a capacidade de descarga neural necessária para ativar as estruturas musculares que protegem a articulação. Estas capacidades nas modalidades que estou a orientar assumem um papel fundamental devido à instabilidade constante em que os mesmos estão sujeitos. A implementação de um programa de exercícios adequado consegue promover o desenvolvimento desta valência funcional adequada à modalidade em questão.
O treino do sistema sensório-motor tem como principal função a manutenção funcional da estabilidade articular. Este sistema é responsável pela coordenação, perceção e feedback necessários para manter a estabilidade articular e o controlo da sequência de movimento garantindo, desta forma, a eficiência articular e a respetiva prevenção de lesões.

O treino de montanha

Neste tipo de treino, o atleta vai conjugar tudo o que faz nos trilhos, nas serras passando pelos reconhecimentos dos percursos das provas até à habituação de correr em altitude e adaptação a todos os tipos de terreno que podem ser encontrados nas diferentes competições. A ideia principal é conhecer o terreno diferenciado, pois este exige do corpo diferentes movimentos e por isso cuidados específicos e uma maior adptação em relação à corrida tradicional.

Perante o exposto, cabe a mim, enquanto treinador, perceber que os exercícios/atividades de treino são os estímulos que irão atuar sobre as diferentes estruturas do organismo. Como tal, também assumo o papel de seleccionar e conduzir os mesmos com precisão e rigor de forma a atingir os objetivos pretendidos.
No seguimento deste raciocínio, e não esquecendo que estamos a falar do exercício de treino no plano fisiológico, compete reflectir sobre as seguintes variáveis:
  1. A duração
  2. O volume
  3. A intensidade
  4. A densidade
  5. A frequência
Posteriormente, juntamente com tudo o que foi planeado e como parte integrante deste processo de planeamento, temos de ter em conta outros fatores também importantes como a nutrição e a fisoterapia/recuperação, como partes fundamentais do treino. Num próximo artigo, debruçar-me-ei sobre estes dois temas.

Espero que as minhas sugestões e conselhos sejam um alerta para alguns pontos que nem sempre são tidos em conta quando estamos a nos preparar para as nossas provas, com o objetivo de concluí-las com sucesso e sem lesões!

Boas corridas a todos!

Hermano Gouveia




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