O treino em altitude é um dado
adquirido na preparação dos atletas profissionais. Muito poucos serão aqueles
que não o fazem. Até entre os atletas amadores mais competitivos, e com
melhores capacidades económicas, ou patrocinadores, já se começa a ver este
tipo de preparação. Vamos tentar então perceber o que é o treino em altitude e
como se processa (de uma forma muito simples, mas compreensível, para os menos
ligados à Biologia e ao treino):
- À medida que vamos subindo em altitude, a percentagem
de oxigénio no ar que respiramos vai diminuindo. Assim, chega menos oxigénio e
também menos energia aos músculos.
- Devido a essa diminuição de
oxigénio, o organismo vai ter necessidade de produzir mais glóbulos vermelhos (são os responsáveis pelo transporte de oxigénio
e nutrientes/energia aos músculos) para manter os níveis de oxigenação corporal
normais;
- Após alguns dias em altitude, o nosso organismo vai ficar com maior
quantidade de hemoglobina/glóbulos vermelhos, logo com maior capacidade de
transporte de energia para os músculos. Essa situação torna-se vantajosa quando
o atleta volta para as altitudes baixas, onde existe novamente mais oxigénio no
ar. Deste modo, ficamos com excedente de
glóbulos vermelhos.
Qual a altitude ideal para
treinar?
A maioria dos especialistas refere
a barreira entre os 2000 e os 2200 metros, embora acima dos 1600 metros já se
faça o treino em altitude. Também há quem treine bem acima dos 3000 metros. Normalmente, o treino é de cerca de 4
semanas. As primeiras 2 semanas são o período onde ocorre período de
aclimatação durante o qual o atleta pode experienciar sensações de extremo
cansaço ou fraqueza. A produção de EPO (eritopoetina,
situada na medula óssea, responsável pela produção de hemoglobina) aumenta
significativamente 2 a 3 dias após a exposição à hipoxia (falta de oxigénio) e
parece desaparecer gradualmente ao final de 25-28 dias. Os estudos referem
também que as performances melhoram em média na ordem dos 3%. Em alta
competição 3% é muito! Numa prova de 2 horas, por exemplo, dá uma diferença de
cerca de 4 minutos!
Parece-me que ir para a serra treinar algumas horas, dois ou três dias
antes de uma prova em montanha não trará grandes vantagens. Ainda há cerca
de 15 dias realizei uma prova de
corta-mato a uma altitude de 1000 metros
( resido e trabalho numa cota entre os 50 e os 150 metros). Soube de alguns colegas
que naquela semana treinaram uma ou duas vezes na serra. Será que há vantagens? A adaptação
demora vários dias, não serão algumas horas naquela semana que farão a
diferença! Poderão até provocar fadiga desnecessária. Basta olharmos a
miserável preparação da Seleção Portuguesa de Futebol no Mundial do Brasil. Não
se tratou de adaptação à altitude, mas ao calor e humidade. Lembro-me de ouvir
um especialista a falar da adaptação ao clima de Manaus. Seria necessária pelo
menos uma semana para haver alguns resultados. Os princípios de adaptação não se baseiam em curtos períodos imediatamente
antes da competição!
Utilização de tendas
simuladoras de altitude
Já é muito comum verem-se tendas
que simulam o treino em altitude. Basicamente é uma tenda de acampamento com o
controlo da entrada de ar vinda de um motor que, propositalmente, envia o ar
com uma percentagem de nitrogénio maior que o normal, simulando assim a altitude.
Dentro da tenda, existe um medidor de percentagem de oxigénio, capaz de simular
o treino em diversas altitudes. Os atletas treinam utilizando passadeiras ou
bicicleta estática (rolos, por exemplo). A tenda também é utilizada apenas para
habituação. Li que há atletas que passam a viver na tenda, mesmo a dormir,
durante algum tempo.
Em Portugal, estas tendas são
preferencialmente utilizadas por triatletas, maratonistas e ciclistas, portanto,
atletas cujas provas têm uma longa duração, precisando de grande capacidade de
resistência.
Carlos Oliveira
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